Trabalhar com mentorias de empreendedorismo feminino pressupõe atuar em parceria. E, assim como em qualquer parceria na vida, às vezes existem alguns descompassos de interesse e entrega.
Venho trabalhando em processos de mentoria para mulheres há seis anos e posso dizer com tranquilidade que, quando uma cliente se desconecta do processo, geralmente é porque chegamos em algum ponto da jornada que mexe em aspectos mais profundos do que a construção do negócio em si.
Estes pontos nevrálgicos se referem à sua história pessoal, seus medos, traumas e afins, ou à impedimentos presentes de natureza pessoal que vão dar muito trabalho para ela resolver – e a tendência é que não faça, não resolva, impactando diretamente a mentoria e seus resultados.
Trazê-la de volta ao eixo para que continue focada naquilo que estamos construindo juntas requer habilidade da minha parte mas também compromisso por parte dela. Assim como num casamento, ambos precisam querer que dê certo, seguir na relação, e trabalhar para isso.
No início me sentia muito culpada e por vezes incompetente: usava todas as ferramentas possíveis mas nada da mulher tomar para si a responsabilidade do trabalho e os resultados daquilo que ela buscou ativamente fazer.
Não mais.
É aí que entram os nutricionistas
Eles estudam anos para poder prescrever aos seus pacientes qual o programa mais adequado aos seus objetivos. Usam as melhores ferramentas, fazem bioimpedância, mostram alternativas, geralmente oferecem três opções para cada refeição no dia dentro do plano alimentar recomendado.
Quando a paciente vai para casa, cabe a ela se dedicar para seguir a dieta, comprar os alimentos, organizar o cardápio da semana, e se livrar dos alimentos nocivos à dieta: sim, aqueles aos quais mais estamos acostumadas no dia a dia. Aqueles que oferecem prazer imediato mas prejudicam o resultado da dieta, comprometendo de verdade o atingimento de seus objetivos.
O nutricionista tem alguma responsabilidade, após entregar seu melhor e aguardar o retorno em 30 dias, caso sua paciente não faça a parte dela? Mais ainda, ele sofre com isso? Com cada paciente que sai de seu escritório, ele fica se perguntando “será que ela vai mesmo fazer o nosso combinado? E se ela não fizer, o que será de mim?”
A resposta é não.
Na dieta e nas mentorias de empreendedorismo feminino, como em qualquer outro projeto pessoal aos quais nos propusermos a fazer, cabe a nós o resultado final da empreitada. Se eu como mentora entrego todas as tarefas, guias, workbooks, conteúdos de estudo e na semana seguinte nada foi feito, eu tenho a obrigação de alertá-la para os riscos desse comportamento, mas não posso obrigá-la a fazer nada do que não queira.
Mostrar os riscos da procrastinação, do não comprometimento e dos atrasos é sim de minha responsabilidade, bem como tentar ferramentas alternativas de engajamento, mas só consigo ir até certo ponto. Passado este ponto, é com ela.
Perceber isso (acreditem, eu sofria até pouquíssimo tempo atrás) me tirou um peso enorme, pois a minha necessidade de entregar tudo com a máxima excelência muitas vezes me colocava num lugar de angústia, de querer controlar até o que não dependia de mim.
Com isso em mente, me sinto na obrigação de compartilhar com outras mentoras essa visão mais leve do processo, mas também pretendo chacoalhar mulheres que querem empreender, mudar de vida, ter mais sucesso e autonomia, e muitas vezes se autossabotam mesmo com todo o suporte possível e muitos recursos para ter uma vida de mais realização profissional.
Espero que essa reflexão sirva para os dois lados dessa conversa, mas que o resultado final sejam mentorias sempre muito bem-sucedidas e novos negócios muito prósperos!
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