homens que odeiam mulheres: uma reflexão sobre essa temeridade crescente no país

Tenho acompanhado atônita a polêmica em torno de um sujeito chamado “calvo do Campari”, suposto Coach de “macheza” cujo princípio de vida é que “toda mulher é vaga*** até que ela prove o contrário”. Sim, você leu certo: veja neste excelente vídeo do Galãs Feios a explicação desse fenômeno que vem crescendo em terra brasilis*. A contextualização feita sobre movimentos como red pill*, incels* e outras siglas se faz bastante necessária e o vídeo explica super bem.

Mais atônita ainda vi que o tal movimento que acredita que homens sensíveis são fracos e bom mesmo é o modelo macho alfa pré-histórico que não chora. Não falar de sentimentos e tacar uma clava na cabeça da mulher mostrar dominância e força dos chamados “macho alfa”. Piora? Sim, há mulheres que concordam e apoiam o movimento.

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 699 mulheres foram assassinadas no país. Isso dá uma média de quatro mulheres por dia. As estatísticas vêm crescendo a olhos vistos (veja matéria completa aqui). Isso acontece pois em todo o mundo, e no Brasil não é diferente, é socialmente aceitável acreditar que o homem é superior à mulher. Esta, reduzida à categoria de propriedade, perde seu valor e vira saco de pancadas nas mãos de covardes que descontam suas frustrações nas coitadas que têm a infelicidade de cruzar seus caminhos. Essas mulheres permanecem em situações assim não porque querem, mas porque muitas vezes dependem financeiramente de seus parceiros. Geralmente têm filhos pequenos que precisam sustentar, e ficam presas à situação. Aliás, engravidá-las como forma de aprisioná-las é uma tática comum. Se você não conhece o caso de Lorenza Pinho, que foi assassinada por seu marido promotor de justiça em BH, conheça aqui.

a solução está na educação primária

Como combater este tipo de tendência ao retrocesso e a manutenção do conceito pré-histórico de que mulher é para servir, usar, procriar e descartar?

Educando meninos para que cresçam valorizando as mulheres, a começar pelo respeito em casa (mães, avós, tias, irmãs). Estender essa educação aos ambientes que frequentam desde cedo, como escola, clube, esportes é vital. Na mesma medida, as meninas precisam entender o próprio valor através de pais e mães que as validem como indivíduos. É preciso derrubar a ideia de que são princesas à espera do príncipe encantado. Como a própria palavra sugere, é um ser mítico e inexistente.

Além da validação emocional e construção constante de uma autoestima saudável, meninas precisam saber desde cedo que trabalho é bom e permite liberdade e independência financeira. Quanto mais educada e qualificada profissionalmente ela for, maiores as chances de ela ter clareza do próprio valor. Assim, não cai na lábia de machos abusadores, como dizem os mais jovens.

O que vemos em casos como este do rapaz do Campari – que virou meme e ameaçou de morte uma das comediantes que fez paródia com seu jeitão infantil (veja aqui, foi com a divertidíssima Lívia La Gatto) – é um alerta sobre como não podemos afrouxar os cintos no combate ao machismo e à violência contra a mulher. Como eu sempre digo: todo cuidado é pouco e se você tem filhos, um futuro mais justo passa pela educação que você escolhe dar a eles.

Glossário

*terra brasilis: nome dado no mapa ao nosso território antes da chegada dos Europeus. A expressão “terra brasilis” já aparecia em mapas dos séculos XVI e XVII, como por exemplo o mapa feito por Pedro Reinel e Lopo Homem em 1519.

**red pill: alusão ao filme Matrix que representa uma versão do mundo real

***incels (involuntary celibataries): em português, celibatários involuntários grupo de homens que surgiu em fóruns na internet que sofreram rejeição por parte de alguma mulher e resolveram – sim – se juntar com outros rejeitados e odiar as mulheres coletivamente.

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